Aragami

Da nossa vizinha Espanha, muito esforço tem sido aplicado para começar a ganhar nome na indústria dos videojogos. Depois de vários lançamentos de alto perfil, entre eles Castlevania: Lords of Shadow e Deadlight, os nossos vizinhos voltam a procurar destaque com uma produção que parece ter bebido de várias inspirações, Aragami. Se no aspecto visual os Espanhóis do Lince Works, de Barcelona, parecem ter-se inspirado nas bandas desenhadas Franco-Belgas para o aspecto Cel-Shaded, o gameplay e o cenário é pura inspiração Japonesa. É fácil olhar para este Aragami e vê-lo como uma espécie de Tenchu em estilo meio cartoon, não só porque parece mesmo mas também porque a nostalgia e a vontade de ver a série Japonesa de regresso é mais do que muita.

Aragami pode ser descrito como um Tenchu cel-shaded, uma carta de amor a essa série Japonesa, que há demasiado tempo desapareceu. Os jogos de ação furtiva não são assim tão abundantes, e a Lince Works aborda em simultâneo dois elementos que o podem tornar muito atrativo: transporta o jogador para um local que nos lembra o Japão, onde seremos uma espécie de ninja que terá de habitar nas sombras para triunfar perante a adversidade. O gameplay de Aragami pode ser descrito de forma resumida: o jogador é colocado em pequenas áreas que se sucedem e compõe um nível, nas quais terá de decidir como se quer comportar.

Num gameplay que dá privilégio ao comportamento furtivo, as penalidades para quem se desvia desta forma de estar serão severas e implacáveis. Ao ponto de a experiência arriscar tornar-se irritante se o fizerem, mas a culpa será toda vossa. Desde os primeiros instantes que Aragami diz ao jogador que o seu elemento natural são as sombras, e nelas terá de se focar. Assim começa uma espécie de jogo de estratégia em tentativa e erro, onde o jogador procurará pelos cenários qual o melhor percurso para chegar ao objectivo, quais as rotas dos guardas e como melhorar o aproveitamento das sombras.

“Aragami é um título singular que pode apaixonar os fãs de ação furtiva, mas não disfarça as origens humildes.”

Claro que para isso o jogador terá várias ferramentas do gameplay ao seu dispor. O nosso Aragami, o personagem principal, pode recorrer a habilidades especiais e são elas um dos trunfos do jogo. A capacidade de se tele-transportar entre sombras, o uso de habilidades especiais, que vamos desbloqueando ao encontrar pergaminhos que nos dão pontos de habilidade, e a capacidade para eliminar de forma furtiva os guardas, fazem com que Aragami consiga tornar-se numa experiência intensa, difícil, nem sempre justa, mas envolvente. Escolher o melhor caminho, decidir se vamos eliminar ou não aquele guarda, se vamos criar distrações para tirar outro da sua posição, ou se até vamos chegar ao final sem matarmos ninguém. Tudo isto terá de ser gerido pelo jogador que frequentemente ficará frustrado com o sistema de checkpoints, com a dificuldade e com momentos em que os guardas parecem desfrutar de visão sobre-humana.

Envolto em visuais cel-shaded que fazem com que o jogador se sinta dentro de uma banda desenhada franco-belga, como já referido, Aragami não desfruta de uma qualidade visual totalmente sólida. Existem momentos agradáveis, outros muito fracos, detalhes interessantes, detalhes horríveis, é um misto que revela as origens humildes do projeto e que nos deixam a pensar como seria caso o seu orçamento fosse superior. É desta forma que podemos quase descrever tudo em Aragami, peculiar, singular, interessante, mas ao mesmo tempo com demasiados elementos rudimentares e a necessitar de utilização. Frequentemente ficamos admirados mas também é normal torcermos o nariz.

Para aprofundar o gameplay, Aragami permite desbloquear novas habilidades que permitem diferentes comportamentos e inevitavelmente tornam os níveis mais fáceis. É outra das premissas, desbloquear novas habilidades para recuarmos a níveis que já completamos para melhor pontuação e objetivos. Existem recompensas para sermos implacáveis e matar tudo, para não sermos detectados ou até para não eliminar ninguém. A história de Aragami cumpre bem o seu papel e consegue entreter o jogador e ajuda a reforçar o valor da proposta e só é pena que a qualidade de todos os parâmetros não esteja ligeiramente superior. Frequentemente dei por mim a pensar, ‘se ele se movesse um pouco melhor’, ‘se os controles fossem ligeiramente melhores’, ‘se os visuais fossem ligeiramente melhores’. Mas a verdade é que Aragami é diferente, e isso por si só já merece o nosso interesse.

“Aragami salta frequentemente entre o frustrante e o interessante, e frequentemente pede mais paciência ao jogador.”

Um dos melhores elementos de Aragami é sem dúvida a sua música. O Lince Works está de parabéns e também aqui demonstrar que a sua paixão enquanto fãs lhes permitiu criar algo verdadeiramente belo. Frequentemente vemos exemplos em que alguém apaixonado por uma cultura lhe presta uma homenagem ao nível do que é feito por quem nasceu dentro desse meio, Aragami é um perfeito exemplo disso. A música tradicional Japonesa acompanhada de uma orquestra dão um toque sublime a muitos momentos. É uma das formas que mais destaque conquista na hora de atribuir uma personalidade a Aragami e estabelecer uma ligação com o jogador.

O Lince Works procurou criar um belo equilíbrio para manter o jogador entretido durante o maior tempo possível. O foco na ação furtiva e a dificuldade ditam que não podemos ser levianos na abordagem ao nível. Isto forçará o estudo dos padrões dos soldados, fará com que essa secção seja frequentemente repetida, e até temos scrolls para encontrar de forma a desbloquear novas habilidades. Ao longo de 13 níveis, vão passar cerca de 8 a 10 horas com Aragami, e existe uma dificuldade séria a respeitar. Os inimigos são implacáveis e terão de encarar com seriedade esta ação furtiva. Mesmo com as quebras na fluidez, mesmo com a falta de resposta nos controles e mesmo com o movimento ocasionalmente irritante do protagonista, Aragami conquistará o nosso respeito, quer pela dificuldade, quer pelo gameplay singular, para nos mantermos entretidos.

Aragami é um jogo muito divertido e altamente desafiante, talvez mais do que deveria. Ainda está a umas boas atualizações do estado em que deveria ser lançado, mas é um excelente vislumbre do que poderia ser feito, caso o orçamento fosse maior. O estilo visual encaixa na perfeição, a história tem qualidade suficiente para nos manter interessados, e é fácil olhar para Aragami como um jogo que foi feito por quem gosta a valer de videojogos. Um daqueles frutos de paixão de quem cresceu a jogar, tal como nós que agora o vamos querer jogar. Alguns elementos com menor utilização e até mais rudimentares afetam o gameplay e reduzem o impacto da experiência geral, mas quando Aragami está no seu melhor, funciona e bem.

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Fonte: http://www.eurogamer.pt/articles/2016-10-04-aragami-analise

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